Dani Lopes, manequim 46. Eu deveria ser a primeira a aplaudir a iniciativa arrojada de empreender uma Moda Plus Size, mas ainda não estou convencida da validade da mesma. Vou pontuar algumas coisinhas aqui pra que eu possa me fazer entender:
A moda, como fenômeno de linguagem, necessita de uma imagem que a unifique. No passado, era a aristocracia européia, no passado recente as estrelas do cinema e na atualidade as famosas modelos internacionais; isto porque a indústria necessita de padrões de tamanho para fabricar as roupas em série (apesar do fato de que a modelagem industrial das roupas só satisfaz, no máximo, 70% da população de consumidores, considerando a necessidade de pequenos ajustes).
As respostas podem ser infinitas, mas é certo que há uma resistência da indústria em modificar os padrões, ou torná-los mais complexos, por conta de tempo e custos adicionais ao desenvolvimento de um produto de moda, que tem um ciclo de vida curto e normalmente dura uma ou duas estações.
Sobre essa questão ARAÚJO afirma:
Modelagem industrial é a confecção de moldes, seguido do escalonamento dos mesmos
em tamanhos variados para a produção em série que serão utilizados na indústria de confecções.Trabalha com padrões determinados, sendo necessário, portanto,
utilizar-se de tabelas de medidas que se assemelham ao padrão médio do corpo,
dentro de uma numeração pré-escolhida.
(ARAÚJO , 1996)
Sobre como chegamos a esta padronização, na década de 1940, começou a haver necessidade de medidas antropométricas cada vez mais detalhadas e confiáveis, provocada pela necessidade de produção em massa e com o crescente volume do comércio internacional. William Sheldon (1940), fez um minucioso estudo com 4.000 estudantes norte-americanos e definiu três tipos básicos: endomorfo ( formas arredondadas, com características de uma pêra), mesomorfo ( tipo musculoso de formas angulosas) e ectomorfo (corpo e membros longos e finos). Observou também influências, comportamentais, de sexo, idade e etnia. ( LIDA,[19- ]).
Em 1968, na Suécia, aconteceu a primeira abordagem oficial da ISO (International Standardization Organization) sobre o assunto da graduação dos tamanhos e o resultado demonstrou que as padronizações deveriam ser feitas por País, devido à grande diversidade antropométrica encontrada. No Brasil, o trabalho do Comitê Brasileiro de Têxteis da Associação Brasileira de Normas Técnicas nesta área teve inicio em 1981, no entanto, esta padronização tornou-se norma NBR 13377- Medidas do corpo humano para o vestuário- Padrões referenciais, aprovada em maio de 1995, após várias reuniões, na Associação Brasileira da Indústria do
Vestuário, ABRAVEST.
É preciso pensar até que ponto essa suposta "liberdade das formas corporais" favorece as mais "cheinhas". Fato é que, com a difusão do uso da Viscolycra por exemplo, os corpos que antes deveriam respeitar uma certa rigidez dos tecidos planos tornam-se agora mais desidiosos. Tal malha, trazia consigo a promessa mágica de respeito às formas corporais, possibilitando até mesmo a função (que considero secundária) de esconder excessos indesejáveis porém reais. A linha entre adaptação e incentivo é muito tênue.
Outro ponto considerável diz respeito ao estudo feito pela Universidade de Arizona, no EUA ao revelar que consumidoras de publicidade em geral (revistas, anúncios de TV, etc) sentem-se mais insatisfeitas com seu próprio corpo ao ver modelos plus-size em evidência nos anúncios. A conclusão de que as mulheres passam a se achar ainda mais gordas quando veem propagandas desse tipo tem um motivo até que óbvio: para a indústria da moda ser gordinha é usar manequim 42, no máximo.
Uma modelo citou com bastante honestidade numa matéria para o blog Moda sem Frescura que as modelos que trabalham como plus size, nem são tão grandes assim. Elas estão mais para 42/44 do que para GGG. Uma delas, inclusive, diz que costuma levar enchimentos de espuma para rechear as roupas, quando vai posar para catálogos de marcas de tamanhos grandes. Neste sentido, o corpo plus size é muito mais uma plataforma para um movimento de aceitação e auto-estima do que para um segmento no mercado da moda.
Não menos importante é salientar que uma coisa é ser curvilínea, outra completamente diferente é ser obesa. Obesidade é patologia e constitui um importante fator de risco para o aparecimento, desenvolvimento e agravamento de outras doenças. Há tantas pessoas obesas a nível mundial que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou esta doença como a epidemia global do século XXI e requer tratamento, seja em casos de alterações endócrinas, predisposições genéticas, questões metabólicas, ambientais ou comportamentais. A discriminação social que leva ao isolamento, depressão e perda de auto-estima são os sintomas mais comuns. Há no entanto, aqueles considerados "gordos e saudáveis" e talvez seja aí que more o equilíbrio a essa questão: não em emagrecer para ficar bem na roupa, mas para ficar bem com sua saúde.
Esta moda segmentada, dirigida a este grupo estanque em nome da inclusão social não mudará muita coisa pois não elimina a discriminação e pode até mesmo produzir o efeito contrário. Ameniza o problema, mas não resolve. A mulher real não quer ser diferenciada, quer ser reconhecida contudo, não por estar fora dos padrões. Ela quer SER, assim, como todas devem ser: cidadãs. E a cidadania não é expressa pelo número do manequim.
"Não sou a favor da moda Plus Size. O que precisa acontecer é o mundo
entender a mulher real, entender que existe mulher maior que o número 42".
entender a mulher real, entender que existe mulher maior que o número 42".
(Preta Gil)
Eu, a primeira à direita e minhas gordinhas preferidas, maninha Marcelle e primuxas Vi e Cris |
3 comentários:
Oi Dani estou te seguindo, sou nova nesse mundo da moda, tmbm fiz meu blog.
Adorei seu blog, tem muitas curisidades e vc escreve muito bem...Se der passa lá no meu cantinho para me dar um HELP!
BJS MD Modas.
Já fui da turma do 44 e concordo com você sem medo nenhum Dani. Apesar de detestar a Preta Gil (rsrsrs) sou obrigada a concordar com ela... Principalmente aqui no Brasil, a mulher real não usa 36. Existem mulheres maior que o número 42 e, como você mesma disse, essa inserção das 'gordinhas' na moda "pluz-size", ao invés de acabar com o preconceito, tem exatamente o efeito contrário, que te faz engordar sem medo, porque agora você vai encontrar roupas maiores, e melhor ainda, FASHION. E isso acarreta inúmeros outros problemas sociais e principalmente, físicos, desencadeando outras doenças que são consequencias da obesidade.
Adorei tudo!!
Parabens!!
http://hojevouassimparagordinhas.blogspot.com
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