sábado, 20 de agosto de 2011

Pra quem ainda tem dúvida...



Fonte: natysign.wordpress.com

    sexta-feira, 5 de agosto de 2011

    Três vezes apaixonada




    Tenho a sensação de que 3 coisas que aconteceram na minha vida assim, por acaso, estão entre as que mais amo. 

    A 1ª foi o magistério - nunca me imaginei professora, jamais sonhei com isso, mas aconteceu e de um jeito tão bacana que eu acabei apaixonada pela educação.

     A 2ª foi o Design de Moda: até então eu queria cursar Comunicação Social/Publicidade ou Marketing...quem sabe Psicologia? Foi quando observei a grade curricular do curso e parei de piscar - apaixonei-me, dessa vez pelo Design de Moda.

    O que descobri nesse caminho foi que posso fazer as duas coisas e hoje, tenho como certo pra mim que quero a docência na área de moda, uma carreira acadêmica bem estabelecida. 

    Entretanto, nesses 3 anos de faculdade notei, em alguns momentos, um vazio didático no meio acadêmico. O panorama atual é, por vezes, composto de professores tecnicamente capacitados e pedagogicamente combalidos. Tal situação vem de encontro com a política educacional de nosso país que ainda insiste num modelo que não privilegia o "ensinar a ensinar". Como vimos no post anterior, "Apesar de o MEC exigir que os docentes possuam mestrado e doutorado, no Brasil eles não são formatados de sorte a oferecer formação específica para a docência. Já a especialização - lato sensu - oferece disciplinas com esse objetivo"  e eis aqui a divergência mãe desses males.

    O quadro é de ausência de qualificação do "professor" em detrimento à do especialista, mestre ou doutor. Para Placco e Silva (2005) o docente, mediador por excelência, precisa ir além da dimensão técnico-científica porque, dominar o conteúdo há tempos não é mais a  principal premissa de um educador. 

    Assim, "o domínio do conteúdo não se restringe mais ao conhecimento consistente de uma área específica, mas exige que esse conhecer se articule com outros saberes e práticas, criando espaços para uma produção que vai além das fronteiras disciplinares. É a busca de um conhecimento científico inter e transdisciplinar." (Fazenda, 1996)

    É preciso considerar também a dimensão da formação continuada (o profissional formado deve continuar estudando, pesquisando, buscando atualizar-se), a dimensão do trabalho coletivo e da construção coletiva do projetoa dimensão crítica-reflexivaa dimensão avaliativa e a que particularmente considero essencial e esquecida: a dimensão dos saberes para ensinar, que inclui:

    - O conhecimento produzido pelo professor sobre os alunos (sua origem social, suas experiências prévias, seus conhecimentos anteriores, sua capacidade de aprender, sua inserção na sociedade, suas expectativas e necessidades);

    - O conhecimento sobre finalidades e utilização dos procedimentos didáticos (os mais úteis e eficazes para a realização da tarefa didática que devem desempenhar);

    - O conhecimento sobre os aspectos afetivos-emocionais;

    - O conhecimento sobre os objetivos educacionais e seus compromissos como cidadão e profissional e por último

    - Visão de Educação, objetivos da Educação, formação de determinado tipo de homem, tendo em vista um determinado e desejado tipo de sociedade." (Placco e Silva, op. cit.).

    Uma dose básica de Filosofia da Educação, uma pitada de Sociologia da Educação, um pouco de Psicologia Educacional, uma pincelada sobre as principais teorias da aprendizagem e um toque do estudo da Didática agregados à formação para fins acadêmicos poderiam fazer grande diferença na qualidade do ensino e nos resultados obtidos a partir dele (há casos de docentes que desconhecem ou desconsideram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional!). Teríamos melhores professores formando pessoas melhores. 

    Em tempo: a 3ª coisinha é minha filhota Giovanna, um presente que pintou sem cronograma e que,  como a docência e o design me surpreendeu e me apaixonou. A Mari eu programei - mas amo igualzinho. 


    Lindas né? eu que fiz!










    Referência:  Material Didático Senai  Pró-Docente.

    Academia, aí vou eu!





    Como muitos ainda têm dúvida sobre a diferença entrer MBA, MESTRADO E DOUTORADO, trazemos para o nosso blog artigo publicado por Gabriel Souza Elias, no site Uol Educação.

    A busca por espaço no mercado de trabalho transformou o panorama da educação superior no Brasil nos últimos anos. A ideia de que uma graduação selecionava profissionais para vagas que exigiam maior qualificação ficou no passado. Hoje, são os cursos de pós-graduação os responsáveis por destacar profissionais na corrida pelos melhores empregos. O resultado desta mudança comportamental é uma explosão no setor de ensino superior, com opções que se misturam e confundem a cabeça dos recém-formados ou daqueles que buscam uma melhor posição dentro das corporações.

    Na hora de definir sua especialização, o candidato se depara com um número expressivo –e crescente– de opções de cursos e instituições de ensino. Neste momento, surge a primeira dúvida: por que escolher a pós-graduação do tipo lato sensu, ou então optar por uma do tipo stricto sensu? Em comum, há o fato de que ambas exigem diploma de graduação. Os termos em latim significam, respectivamente, “em sentido amplo” (subjetivo) e “em sentido estrito” (objetivo). E ajudam a começar a entender as diferenças.

    TIPO DE PÓS:

    LATO SENSU: MBA E ESPECIALIZAÇÃO

    STRICTO SENSU: MESTRADO E DOUTORADO

    DIPLOMA: 



    TODOS EXIGEM DIPLOMA DE CURSO SUPERIOR

    ÓRGÃO REGULADOR:


    MBA E ESPECAILIZAÇÕES - Sesu- MEC

    MESTRADO E DOUTORADO - Capes

    FINALIDADE:


    MERCADO DE TRABALHO - MBA E ESPECAILIZAÇÃO

    CARREIRA ACADÊMICA - MESTRADO E DOUTORADO

    AVALIAÇÃO:
    TRABALHO DE CONCLUSÃO- MBA E ESPEALIZAÇÃO

    DISSERTAÇÃO E TESE - MESTRADO E DOUTORADO

    DURAÇÃO:

    360 horas de aula (mínimo) - MBA E ESPECIALIZAÇÃO

    De 30 a 48 meses - MESTRADO E DOUTORADO

    Basicamente, o diploma é o que irá distinguir as especializações. Somente uma pós-graduação stricto sensu garantirá ao aluno um grau acadêmico, que poderá ser de mestre ou doutor. O MEC (Ministério da Educação e da Cultura) reconhece oficialmente os programas de mestrado e doutorado e os diferencia dos demais cursos de especialização, de acordo com o texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394, art.44, parágrafo III). A pasta também fiscaliza e avalia sistematicamente tais cursos através da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

    Uma pós-graduação stricto sensu é geralmente a opção de quem deseja trabalhar com ensino ou pesquisas. A exceção acontece quando a escolha é por um mestrado profissional, que enfatiza estudos e técnicas voltadas ao desempenho de alto nível. Mestrado acadêmico e doutorado são opções para quem quer seguir carreira acadêmica, sendo o segundo um estudo mais específico e aprofundado com objetivo de formar pesquisadores. Os mestrados são avaliados através de dissertações (que apresentam estudos aprofundados sobre um tema existente) e os doutorados através de teses (que trazem novos temas).

    No caso das pós-graduações lato sensu, o estudante receberá um certificado de conclusão de curso após ser aprovado em todas as disciplinas e cumprir carga horária mínima de 360 horas. De acordo com o MEC, estes programas podem ser oferecidos no mercado por instituições de ensino credenciadas, sem a necessidade de autorização específica ou reconhecimento do órgão. As instituições devem, sim, atender ao disposto na resolução nº 1/2007 do CNE (Conselho Nacional de Educação), que normatiza o funcionamento destes cursos supervisionados pela SESu (Secretaria de Educação Superior).

    MBA é lato sensu

    Neste tipo de pós-graduação também estão inseridos os cursos de MBA (Master in Business Administration, em inglês), considerados especializações em administração voltadas para a área de negócios. No exterior, o MBA dá ao profissional a graduação de mestre –conforme a denominação original sugere– e o diploma. No Brasil, apesar da ausência do grau acadêmico, o mercado de trabalho reconhece e diferencia profissionais que optam por uma especialização ou aperfeiçoamento lato sensu.

    Até o primeiro mês de 2011, instituições denominadas “não educacionais” podiam pleitear junto à SESu um credenciamento especial para oferecer cursos de especialização lato sensu presenciais e à distância. Uma resolução publicada em 16 de fevereiro pelo CNE, entretanto, revogou esse direito, restringindo a oferta somente às entidades de ensino já credenciadas.




    Nota do Prof. Ms. Benedito Luiz Franco 

    Apesar de o MEC exigir que os docentes possuam mestrado e doutorado, no Brasil eles não são formatados de sorte a ofrerecer formação específica para a docência [grifo meu - este parágrafo vai render-me um post]. Já a especialização - lato sensu - oferece disciplinas com esse objetivo.


    terça-feira, 21 de junho de 2011

    Alforria para o SPFW


    Ai!... que me deu um faniquito quando eu li essa notícia aí embaixo!

    Entidade do movimento negro faz protesto em frente ao SPFW

    Educafro quer cota de modelos negros duas vezes maior que a atual, de 10%

    Beatriz Souza
    A Educafro – Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes, rede de cursinhos pré-vestibulares comunitários, está promovendo um protesto diante do Pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, em São Paulo, na tarde desta segunda-feira. O protesto, iniciado às 16h30, é dirigido ao São Paulo Fashion Week, que tem início nesta segunda, no local. Com faixas e cartazes, cerca de 20 pessoas pedem uma maior participação duas vezes maior de negros nas passarelas.
    "Fashion Week, presta atenção, o povo negro não quer mais enrolação", grita o grupo. A reivindicação é para que os estilistas aumentem de 10% para 20% a participação de modelos pretos. "A Educafro, em busca da igualdade racial (...), acredita que é inaceitável essa padronização europeia nos desfiles de moda no Brasil", diz texto colocado no site da organização.  
    "Quando lutamos para que fosse instituída uma cota de 10% de negros nos desfiles, inaugurada em 2007, nós imaginamos que os organizadores continuariam esse trabalho de inclusão. Queremos mais negros nas passarelas", diz Frei Davi Santos, diretor-executivo da Educafro e líder do protesto. "Fazer um desfile como se estivéssemos na Suíça é um atentado para o Brasil. Se o SPFW não aumentar a cota sozinha, vamos procurar o Ministério Público e ir à Justiça pedindo não 20%, mas logo 30%."

    Alguma coisa ainda sem explicação, aqui dentro de mim, já me incomodava em relação às sempre polêmicas cotas para negros nos diversos setores da sociedade. Daí, no dia das mães ganhei um livro que namorava há tempos: o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil de Leandro Narloch.
    O livro é uma provocação, uma pequena coletânea de pesquisas históricas sérias que vão diretamente contra a historiografia politicamente correta, derrubando mitos populares sobre heróis e episódios marcantes do país, prestando um grande serviço ao pensamento crítico. 


    Resumindo: o que ganhei não foi apenas um livro, ganhei argumentos para aquela inquietação inicial...

    Isso porque descobri que era comum africanos ou descendentes escravizarem e que estudos recentes demonstraram uma mudança no ponto de vista: os negros deixaram de ser vistos como vítimas constantemente passivas, que nunca agiam por escolha própria. Os historiadores buscaram mostrar o negro como sujeito da história, protagonista da escravidão, ainda que não aquilombado. Tais estudos fizeram aflorar histórias aparentememte desagradáveis para minorias e movimentos sociais, como estas:

    Zumbi tinha escravos


    É na data de morte do maior herói negro do país que muitas cidades do país comemoram o Dia da Consciência Negra. O que poucos sabem é o fato de que  ele mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Talvez esta informação ofenda algumas pessoas hoje em dia, a ponto de preferirem omití-la ou censurá-la, mas na verdade trata-se de um dado óbvio - na sua época não havia nada de errado nisso. Zumbi viveu no século 17 e quem viveu nessa época tinha escravos, sobretudo se liderasse algum povo de influência africana.

    Até o século  19, povos negros invadiam povos vizinhos para capturar gente. Recrutavam garotos, que depois transformavam em guerreiros e adultos para trocar por ferramentas e armas com os europeus. Essa prática fez desses povos grandes fornecedores de escravos para a América. Os quilombolas não fugiam à regra: faziam pequenos ataques à povoados próximos. Aqueles que chegavam ao quilombo"por sua própria conta" eram considerados livres, já aqueles que eram raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos.

    O que houve, na verdade, foi um esforço em caracterizar Palmares como a primeira luta de classes na História do Brasil. Os livros que falam sobre Palmares não são confiáveis e há indícios de que as fontes foram inventadas e tais histórias constam até hoje no Livro dos Heróis da Pátria da presidência da República.

    O sonho dos escravos era ter escravos

    Assim que conseguiam comprar a  alforria, o próximo passo de muitas mulheres negras livres do século 18 era adquirir escravos para si próprias. Em liberdade, essas Chicas da Silva tinham muito mais tempo e ferramentas para ganhar dinheiro. Contando com escravos como mão de obra barata, algumas fizeram fortuna. 


    A angola Isabel Pinheira morreu em 1741 deixando sete escravos no testamento, que deveriam ser todos alforriados quando ela morresse. Na década de 1760 a baiana  Bárbara de Oliveira tinha vários imóveis, jóias, roupas de seda e nada menos que 22 escravos, que era uma fortuna para a época (uma carta de  alforria custava cerca de 150 mil réis - o equivalente a uma casa simples na cidade).


    Carta de Alforria
    Outro caso interessante é o da negra Bárbara Gomes de Abreu e Lima, dona de um casarão em frente à Igreja Matriz de Sabará, ela tinha sete escravos e parcerias comerciais com empresários e políticos. O fato dela ter escravos não era novidade: em 1830 os negros somavam 3/4 da população livre e 43% das casas de negros livres tinham escravos. O que as estatísticas mostram é que comprar gente era um ato corriqueiro de quem subia de vida, tanto entre brancos como entre negros e que ter sido escravo dificultava, mas não impedia essa ascensão.

    "(...)Os brasileiros livres de cor não eram, definitivamente, um grupo isolado ou marginalizado, sem acesso aos recursos da economia aberta de mercado. Uma parcela volumosa desse grupo já experimentava considerável mobilidade econômica, e participava da maioria das ocupações e arranjos domésticos desfrutados por seus companheiros brancos."


    Também houve casos de escravos que se tornaram traficantes: voltaram para a terra natal, formando uma comunidade de brasileiros que passaram a vender gente.

    Os portugueses aprenderam com os africanos a comprar escravos

    Entre a diversidade de culturas africanas, a escravidão funcionava como um traço comum. As caravanas de comércio escravo existiam muitos séculos antes de os europeus atingirem a costa oeste do continente. No século 8, logo após a colonização árabe do norte da África, africanos do sul do Saara passaram a atravessar o deserto para vender aos árabes algodão, ouro, marfim e sobretudo escravos.

    "A escravidão já era fundamental para a ordem social, política e econômica de partes da savana setentrional, da Etiópia e da costa oriental africana havia vários séculos antes de 1600. A escravização era uma atividade organizada, sancionada pela lei e pelo costume.Os cativos eram a principal mercadoria do comércio, incluindo o setor de exportação,  eram importantes na esfera interna, não apenas como concubinas, criados, soldados e administradores, mas também como trabalhadores comuns."

    Com a venda de escravos alguns reinos africanos viraram impérios. Em outras regiões, a escravidão era uma cultura estabelecida com tanta força que os camponeses pagavam impostos ao Estado central usando escravos como moeda. Para conseguir comprar ouro nesta região os portugueses precisaram arranjar escravos como moeda de troca. Estima-se que, entre 1500 e 1535, eles compraram cerca de 10 mil cativos no golfo do Benin apenas para trocá-los por ouro na própria África. Entraram em contato com os costumes locais e se tornaram escravistas.

    Os africanos lutaram contra o fim da escravidão

    Os nobres africanos dependiam da venda de escravos para manter seu poder. Vendendo gente eles obtinham armas e garantiam assim a expansão do território e do domínio das terras já conquistadas. Sem a troca de escravos por armas, tinham a soberania do território e a própria cabeça ameaçadas.

    O ideal de liberdade dos negros, que todas as pessoas sensatas defendem hoje em dia, surgiu somente por causa dos protestos eufóricos e do poder autoritário dos ingleses e seu movimento abolicionista, cuja origem foi muito mais ideológica que econômica.

    Se a Inglaterra conseguiu acabar com o tráfico pelo Atlântico, a escravidão durou muito mais em outros pontos da África. Em Serra Leoa os escravos só foram libertados em 1928 e apenas em 1950 no Sudão.

    Em 2007, completaram-se duzentos anos da proibição do tráfico de escravos. A primeira vitória da campanha abolicionista da Inglaterra. Nenhum país da África ou movimento negro da América prestou homenagens ou agradecimentos aos ingleses.


    Serááá???

    Quando os escravos tinham olhos azuis

    Hoje em dia relacionamos negros a escravos porque a escravidão africana foi a última - houve um tempo em que os escravos lembravam brancos de olhos azuis. 

    A própria palava "escravo" vem de "eslavos", os povos do leste europeu constantemente submetidos à vontade de germanos e bizantinos na alta Idade Média. Brancos europeus também foram escravizados por africanos. Entre 1500 e 1800 os reinos árabes do norte da África capturaram de 1 a 1,25 milhões de escravos brancos, a maioria deles do litoral do Mediterrâneo.


    Termino transcrevendo outro trecho. Este, para mim resume bem toda essa problemática:

    "Não há motivo para ativistas do movimento negro facharem os olhos aos escravos que viraram senhores. Ninguém hoje deve ser responsabilizado pelo que os antepassados distantes fizeram séculos atrás. Além disso, na época em que eles viveram, ter escravos não era considerado errado: tratava-se de um costume tido como correto pela lei e pela tradição. Negras forras e ricas podem até ser consideradas heroínas do movimento negro, personagens que ativistas deveriam divulgar com esforço. Para um brasileiro descendente de africanos, é muito mais gratificante, (além de correto) imaginar que seus ancestrais talvez não tenham sido apenas vítimas que sofreram caladas. Tratar os negros apenas como vítimas indefesas, como afirmou o historiador Manolo Florentino, 'dificulta o processo de identificação social das nossas crianças com aquela figura que está sendo maltratada o tempo todo, sempre faminta, maltrapilha'. É uma pena que historiadores comprometidos com a causa negra ou patrocinados por estatais escondam estes personagens".


    Leandro Narloch



    E você, o que acha???










    sexta-feira, 20 de maio de 2011

    Designers são de Marte, Costureiras são de Vênus



    Putz!

    Qual será o problema das costureiras?

    A cada novo projeto de desenvolvimento de produto eu me faço essa pergunta. 

    Primeiramente, porque é mais fácil encontrar piolho em peruca do que uma costureira que confeccione uma roupa [a maioria só quer fazer ajustes].

    Segundamente (rs!) quando enfim encontramos, ela só trabalha com malha [será por causa da rima?] e sendo inimigas declaradas dos tecidos planos, a gente que quer ser designer de moda fica no meio desse tiroteio. E sobra bala perdida.

    Daí você encontra uma bendita. E eis que começa o sermão a aula:

    Que a gente desenha sem conhecer, que se o curso é de moda a gente já devia saber isso, aquilo e aquilo outro, que a gente tem muita teoria mas que quem saaaabe mesmo é ela, que  "isso aí que a gente desenhou" não existe, que ela conhece um estilista óóótemo, que tem uma amiga que costura mal pra caramba e outra que faz alta costura (Oohhhhhhh!!!)


     Impáfia!

    Pausa para uma fungada.  


    Costureiras no divã. Esta profissão não é a mais antiga do mundo, mas está no Top 10. 

    Até o século XVII, o status de costureira era considerado modesto, de modo que só eram "autorizadas" a fazer consertos e ajustes para alfaiates e camiseiros.  Nessa época, somente os mestres alfaiates tinham legitimidade para vestir homens e mulheres. Porém, algumas possuíam em sigilo uma rede de clientes.

    As costureiras que não seguissem as regras eram perseguidas, recebiam multas e tinham seus materiais apreendidos. Somente em 1675, por ordem do Rei Luís XIV, adquiriram reconhecimento e parte do "mercado". Entretanto, eram proibidas de manter em suas lojas quaisquer peças de tecido ou de comercializá-las.

    Haviam quatro categorias: a costureira de vestuário, a costureira de roupas infantis, a costureira de camisaria e a costureira de acabamentos.

    Em 1782, foi concedido o direito de rivalizar com os alfaiates na confecção de corpetes, espartilhos e crinolinas, assim como de robes masculinos e dominós de baile. A partir de então, algumas de tornaram famosas e, entre as que ficaram para a posteridade, podemos citar Rose Bertin na época de Luis XVI, Madame Palmyre na de Carlos X, Mademoiselle Beaudrant na de Luís-Felipe, entre outras.

    Por maior que fosse a notoriedade das costureiras, a autonomia e poder de atuação permaneceram restritos por algum tempo.


    Até que CABRUM! Explode o Prèt-à-porter. Produções artesanais e autorais perdem espaço [snif!...] para aquelas fabricadas em série, impulsionando ainda mais a Revolução Industrial.

    Foi dado início a uma grande padronização da costura e o trabalho das costureiras, em um primeiro momento, foi desvalorizado. 


    Novos focos e critérios de criação impuseram-se; a configuração hierarquizada e 
    unitária precedente rompeu-se; a significação social e individual da moda mudou-se 
    ao mesmo tempo que os gostos e os comportamentos dos sexos. 
    (Lipovetsky,p.107,1989)

    Posteriormente, os burgueses, na busca pelo "diferente", começaram a contratar costureiras para que suas roupas fossem mais elegantes e distintas.

    Adiante, a costureira, ora figura central no processo de criação de produtos de moda, cede lugar ao estilista (e mais adiante ao designer). O modo de produção artesanal não refletia mais um tempo em que a moda pretendia tornar-se democrática.

    Hoje, a indústria da moda incorporou parte das profissionais da costura, outra parte encontrou no trabalho exclusivo e sob medida um motivo para continuar se orgulhando de sua sina profissão. Entretanto, o número das que se interessaram em atualizar-se ou em incorporar essa multidisciplinariedade exigida pelo mercado ainda é pouco expressivo. 

    Talvez, o conjunto de tooodos esses fatores tenha dado causa à origem de algum ressentimento, descontado em nós a cada visita em seus ateliers.

    Cartas na mesa, eu gostaria que entendessem o seguinte:

    Primeiramente, que estamos num curso de Bacharelado em Design de Moda, nem técnico, nem de corte e costura. O bacharel é um pesquisador por excelência. É sabido que precisamos conhecer a fundo todas as etapas do processo e buscamos isso. Talvez, se nos recebessem com mais simpatia, haveria maior empatia e uma enorme troca de experiências, o que faria a teoria aprendida no curso fazer muito mais sentido.
    Afinal, costureiras um dia também precisaram aprender com alguém.

    Segundamente (rs!) que não sou estilista. Nem designer sou ainda. Mas uma coisa que eu aprendi na faculdade e na vida é que pra emitir opinião sobre algo eu devo primeiro conhecer aquilo de que estou falando. Conhecendo, falo com propriedade, posso até não concordar, mas tenho argumentos. 

    Porque, cá entre nós: comprar a ideia de que alguém faz alta costura, aqui do ladin de casa, não dá, né?

    E por último: vocês costureiras são essenciais! São especiais! Imprescindíveis!...


    ...fadas que transformam nosso sonho de papel em roupas de verdade.


    Nós não competimos: somos aliadas!

    Penso que, talvez, todo esse orgulho esconda no fundo um sentimento de desvalorização ou de inferioridade - o que não se justifica, dada sua importância no processo de confecção e a relevância de seu trabalho para a sociedade.

    Portanto, proponho:

    Vamos aprender juntas! Do respeito vem o crescimento, novas parcerias, quem sabe. Se nós, futuros designers vencermos vocês vencerão conosco.

    O nosso sucesso é o vosso sucesso.






    FONTE: GRUMBACH, Didier. Histórias da Moda. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p.15.

    terça-feira, 19 de abril de 2011

    Não quer descer pela garganta



    Se, originalmente Blogs foram criados para serem diários virtuais, o uso que farei do meu hoje será o mais adequado possível. Ando com muita energia ruim acumulada e escrever talvez faça-a sair por meus dedos.

    É que acontecem coisas comigo que por mais que eu lute contra, persistem em martelar minha cabeça.

    Nunca gostei de Modelagem Plana, nunca escondi isso de ninguém, nem mesmo dos professores [brinco que meu negócio são os livros e não os tecidos...] mas sei da importância de saber e aprender, porque lá pra fora dos muros da faculdade alguém um dia vai me perguntar e eu vou querer responder, porque me cobro isso. Por esse motivo, na medida do possível tenho me esforçado e conseguido atingir os objetivos com boas notas e trabalhos "bacanas".

    Pois bem, esse ano começamos a fazer aulas de Modelagem Tridimensional  [Moulage] e eu vislumbrei com encanto a chance de começar a gostar da coisa - e gostei. Percebi que é preciso ser um tanto meticuloso com as linhas, medidas e pences da vida, mas é gostoso trabalhar direto no manequim, construir sonhos vestíveis...[bonito isso, né?]

    Daí, comecei: foram blusas básicas, saias, vestidos... Em viajem de férias, faltei a uma das aulas, mas nerd como sou [como me chamam]  preocupada em perder aula voltei correndo e tratei de colocar o conteúdo em dia.

    Fiz as peças, relatórios vistados, digitados e entregues em pasta catálogo preta. Fui pra casa.

    Uma a uma as notas do primeiro bimestre foram chegando: um 9 lá, um 8.7  acolá, outro 9...Tudo dentro do previsto. No dia em que eu saberia a nota de Moulage, deu uma vontade de sair e brincar com minhas filhas: resolvi faltar e passar um tempo com elas, e na hora mais feliz, no parquinho, entre cores e gargalhadas toca o celular: tirei nota zero nos relatórios e talvez um 3 nas modelagens, o que me deixaria, a priori com média 3 e me arremessaria direto e reto para o exame.

    Acabou a risadaria...

    Exame?! Eu?! Nunca, em toda minha vida escolar tirei um zero, nunca fiquei nem mesmo para recuperação. Tal nota, teria sido porque hipoteticamente eu havia copiado de algum outro aluno - o que de fato não ocorreu.

    Chorei. Chorei mesmo, e muito. Deus sabe o quanto esse curso é importante pra mim. É Ele quem me acompanha nas madrugadas quando eu acho um tempinho silencioso pra fazer minhas modices.

    Eu sempre quis fazer faculdade, mas a vida só me deu esse presente aos 29 anos. Então, eu saio todo dia do meu trabalho às 19:00 horas, sem banho, sem janta, e vou feliz da vida [sério!] pro lugar onde eu rego uma plantinha chamada "futuro". Tem colega que não entende isso de gostar da faculdade. Tem gente que acha que eu não devia chorar por uma bobeira dessas. Mas pra mim é importante. Pra mim é muito importante. Tem valor de verdade, peso de vida.

    Eu não vou pra faculdade  pra tirar nota sete e pegar um canudo no final de três ano e meio. Eu vou porque eu quero, porque eu gosto, porque é isso que eu escolhi pra mim.

    Conversei com a professora, mas não quero entrar em méritos de didática e critérios de avaliacão, porque apesar de também ser professora [eu sou professora] lá eu sou só uma aluna.

    O que eu queria falar é que isso me machucou muito. E doeu. E tá doendo um pouco ainda. Porque nota baixa não é de mim. Exame não é de mim. E mentira também não. Eu não copio nada de ninguém, porque sei que isso é me autoboicotar.

    Tá aqui, uma bola na minha garganta, porque eu não falto às aulas, porque eu me sinto idiota de estar na praia pensando naquilo que eu tava perdendo, e de ter voltado correndo pra não ficar pra trás. Me sentindo uma imbecil por ter feito os relatórios à mão, por ter escrito um deles, o da aula que eu perdi, intuitivamente, enquanto lembrava do processo de confecção da peça, sendo que o caminho mais fácil que era pegar emprestado de alguém e copiar eu nem considerei.

    Me sentindo um lixo [tudo bem, pode falar que eu tô sendo dramática] por ter que mendigar uma nota que eu merecia e explicar uma mal-caratice que eu não cometi. Me julgando por colocar muitas vezes, quase sempre, a faculdade acima da minha família, acima das menininhas que quando eu chego já estão dormindo e do  marido que cuida delas pra eu poder estudar.

    Por menos que isso signifique pra você que está lendo, pra mim, vai ficar marcado. Porque a sensação que eu tenho hoje é a de que não valeu a pena o esforço, o fazer com gosto, ou pelo menos o tentar fazer certo, porque não houve reconhecimento.


    Eu não tenho mais 18 anos, e o fato de brincar bastante eu não me torna incapaz de saber a hora de falar sério.

    Não quero julgar, justamente porque não me senti avaliada, mas sim julgada [e sentenciada] e não quero incorrer no mesmo possível erro. Senti o zero como que para o meu caráter e não para meu trabalho.

    Ontem faltei à aula, hoje também não vou. E resolvi escrever porque quem me conhece sabe que eu quero fazer carreira acadêmica, dar aulas, palestrar... E esse episódio me fez ver que na faculdade a gente aprende não apenas como fazer as coisas, mas também como não fazer.

    E alguém que queira um dia ter alunos pode aprender aqui nesse baita texto que, um pré-conceito, opiniões baseadas em opinões de pessoas e pessoas podem gerar um equívoco, que pode gerar uma injustiça, que pode gerar uma tristeza, que pode levar ao desânimo de fazer o que é certo, de continuar e de fazer bem feito.

    Amo o curso que escolhi, cada dia tenho mais certeza que esse é o meu caminho. Mas daqui, desse termo adiante, provavelmente eu não consiga mais ser eu. Porque esse "ser eu" não valeu a pena. Só espero que, tentando me conter eu não abafe o que tenho de mais precioso, e que ao menos assim eu consiga nota para "passar de ano".

    Eu já não sei mais se gosto de moulage...

    terça-feira, 12 de abril de 2011

    MÃE, QUERO SER DESIGNER!

    _Mas isso é profissão?

    _Claro mãe!

    _Ah tá! Tipo, “designer de sobrancelha”, "designer floral", “hair designer”, “designer de unhas”...

    _É mãe...ser designer é bolinho! Bolinho... bolinho me lembra “cake designer”!KKK!

    _Eu sempre vejo na TV que os carros de hoje tem sempre um “design”... Mas, cá entre nós, o que é design?

    _ Ah mãe, deve ter a ver com o desenho, com a "boniteza” da coisa...


    Acho que deu, né? [essa sou eu me metendo na conversa]


    Design, minha gente, é muito mais que estética. Design não é o desenho, é o desígnio. Design é projeto.


    Um designer, para que assim possa ser chamado, deve passar por curso técnico ou de graduação, onde aprenda coisas das quais nenhum destes micreiros profissionais  acima sequer tomou conhecimento, como por exemplo:


    • A história do design internacional e nacional do design;

    • Teorias da forma, princípios da Gestalt e composição formal, linguagem visual e cor;

    • Teorias da comunicação e Semiótica;

    • As bases culturais, sociais e os aspectos psicológicos do projeto em que o design se apóia;

    • A questão da sustentabilidade como premissa;

    • O design não como arte, mas a arte como um caminho para o design;

    • A criatividade a serviço das pessoas em prol de uma revolucionária transformação e contínua evolução do ser humano;

    • Os aspectos ergonômicos, de acessibilidade e usabilidade nos projetos;

    • E, sobretudo, a capacidade de realizar pesquisas, transmitir idéias por meio de representações manuais ou digitais ou ainda através de protótipos, atualização de conhecimentos em relação a materiais e novas tecnologias e a aplicação adequada de uma metodologia de projeto ao seu trabalho.


    _Noooossa! Como assim? Tudo isso?!

    E tem mais, já ouviu falar no ICSID?


    _Hãn?


    O Internacional Council of Societies of Industrial Design…afirma que:


    “Projetar a forma significa coordenar, integrar e articular todos aqueles fatores que, de uma maneira ou de outra, participam no processo constitutivo do produto. (...) Isto se refere tanto a valores relativos ao uso, fruição e consumo individuais ou social do produto (fatores funcionais, simbólicos ou culturais) quanto aos que se referem à sua produção (fatores técnico-econômicos, técnico-construtivos, técnico-sistemáticos, técnico-produtivos e técnico-distributivos)”.


    _Uff! Se eu entendi, o cara acompanha o projeto de cabo a rabo!


    Exatamente! Da concepção à distribuição e até avaliação do resultado dentro do objetivo proposto. Na academia, vai ouvir também falar muito de Tomás Maldonado.


    _Academia? Eu vou pra faculdade, não pra maromba!


    (Jesuix!)


    Academia= ambiente acadêmico...


    Olha o que ele fala:


    “Design é uma atividade projetual que consiste em determinar as propriedades formais dos objetos a serem produzidos industrialmente. Por propriedades formais entende-se não só as características exteriores, mas, sobretudo, as relações estruturais e funcionais que dão coerência a um objeto, tanto do ponto de vista do produtor quanto do usuário”.


    _Ok, como então um “designer de sobrancelha” deveria estudar as propriedades formais desses pelinhos da face?


    Pois é...


    _E uma “designer de unhas” determinaria as relações estruturais e funcionais das unhas?


    E um cake designer....

    _Tá, tá...já entendi: meu respeito aos designers genuínos!

    Isso acontece porque infelizmente a profissão ainda não foi regulamentada...

     _Chato isso...mas, me fale  mais!


    Quem fala agora é Bernd Lobach:


    “Design é o processo de adaptação do entorno objetual às necessidades físicas e psíquicas dos indivíduos da sociedade".

    E agora Gui Bonsiepe:


    “(...) é uma atividade projetual, responsável pela determinação das características funcionais, estruturais e estético-formais de um produto ou sistema de produtos, para a fabricação em série. (...) sua maior contribuição está na melhoria da qualidade de uso e da qualidade estética de um produto, compatibilizando exigências técnico-funcionais com restrições de ordem técnico-econômicas”.


    _Posso ir agora?


    Onde?

    _Projetar melhor meu futuro...