Vou cortar a fita da inauguração de uma nova fase blogueira com uma tesoura que vai um pouco mais fundo. Muita gente falando de moda sem saber o que realmente é a moda, ignorando o lado histórico, social e cultural em que ela implica. Gente que diz que não gosta, que ela é amarga, azeda ou ruim simplesmente porque não experimentou ou sequer enfiou o dedo com vontade nesse bolo. Gente que pega fato isolado e sem contexto e transforma em tese, jurisprudência ou pré-texto para pré-conceitos.
E como faria Tarantino:
Chapter #1: Moda não é padronização

Quem sabe mesmo apropriar-se da moda a seu favor consegue a façanha de pertencer a um grupo sem perder seu estilo pessoal, supre a necessidade humana de ser e pertencer sem tornar-se o mais novo clone fashion da temporada. Moda neste sentido é a síntese perfeita de união e isolamento.
Chapter #2: Moda não é puramente materialismo e consumismo
A moda está ligada à beleza, à ética e à estética, fato que explica seu caráter subjetivo. Está ligada à arte enquanto expressão individual e à sociologia enquanto expressão coletiva. Diz respeito também à filosofia, uma vez que é feita pelo homem e para o homem, à psicologia devido a mecanismos que nos remetem à sensações diversas como segurança ou desconforto. É fundamental à compreensão da história da humanidade, das ciências humanas, das manifestações culturais e políticas, funcionado como espelho de um tempo. O comércio e o consumismo são conseqüências de tudo isso – da moda resolvendo no imaginário das pessoas, entre outros problemas, o da exclusão social e gerando com isso produtos, emprego e renda.
Chapter #3: A moda não é tão efêmera e passageira assim
Ela é cíclica. No inverno passado voltaram os ombros marcados, característicos da década de 80. Neste, as polainas também de 80 e o shape da década de 40. E o que dizer do clássico Tailleur de Chanel, da cintura marcada de Dior e tantos outros que vivem entre nós, imortais em looks completos ou pontuados em discretas pinceladas?
E quanto à calça jeans, nascida de uma necessidade, ícone de uma geração, peça que se perpetuou e ganhou o mundo em modelagens e lavagens que vão do tradicional ao contemporâneo?

O que passa é a aparência por si só, o vazio por trás da máscara. Se o que você veste reflete o que vem de dentro, seu humor, sua ideologia, seu estilo, então não passa. Pode sim amadurecer, mas não passa – e isso é moda.
Chapter #4: Moda não é coisa fútil de gente avulsa não!

A carreira exige muito, o mercado mais ainda. Antes de dar pitacos consulte ao menos a grade curricular de um bom curso de moda. Ninguém vence no ramo indo à universidade para aprender desenho e corte-costura apenas.
Chapter #5: Desa-bapho final
Não gosta de moda quem não se permite, quem não sabe se expressar. Não gosta de moda quem é linear, faz tudo sempre igual, vidinha mais ou menos, nem muito triste nem superfeliz.
Não gosta de moda quem não se arrisca, quem não abre a porta do desconhecido pra ver o que tem do outro lado e aprende com as coisas ruins também, quem não vê oportunidade do caos.
Quem não tem atitude, quem não se ama. Quem não tem o olhar educado pra perceber a beleza e a arte no mundo, nas coisas e porque não, nas roupas.
Não gosta de moda quem não se comunica ou não sabe se comunicar ou ainda que diz não se importar com o que a sua imagem comunica e usa isso como muleta. Não gosta de moda quem acha que sabe o que é moda, porque a moda não é coerente nem racional, mas até quem diz que não curte está usando, mesmo sem querer. Ou estamos todos nus?
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