domingo, 27 de março de 2011

MEMÓRIAS PÓSTUMAS SOBRE ROUPAS

Olá! Quanto tempo hein?!

Ontem à noite no Cine Brasil da TV cultura assisti o filme "Memórias póstumas de Brás Cubas", baseado na obra homônima de Machado de Assis. Pra você que já ouviu falar mas não conhece ou não se lembra da história, eis aqui uma sinopse:



"Após sua morte em 1869, Brás Cubas, disposto a se distrair um pouco na eternidade, decide narrar suas memórias e revisitar os fatos mais marcantes de sua vida. E adverte: "A franqueza é a primeira virtude de um defunto". É com desconcertante sinceridade que ele relembra sua infância, juventude, incidentes familiares e personagens marcantes, como o amigo Quincas Borba, que passa de mendigo a milionário. Fala ainda sobre sua formação acadêmica em Portugal e o discutível privilégio de nunca ter precisado trabalhar. Com a mesma franqueza, Brás Cubas convida o espectador a testemunhar sua tumultuada vida amorosa. Lembra o primeiro amor, a cortesã espanhola Marcela que amou-o por "15 meses e 11 contos de réis". O segundo, a jovem Eugênia, que “apesar de ser bonita, mancava. E sua grande paixão, Virgília, que acaba trocando-o pelo político Lobo Neves. Abordando o cotidiano ou acontecimentos nacionais, na vida ou na morte, Brás Cubas alterna ironia e amargura, melancolia e bom-humor sem perder a leveza. Em qualquer estado de espírito, ele nos surpreende pela irreverência e devastadora lucidez".


O filme é composto de riquíssimo vestuário - a tentativa do diretor de reconstruir fielmente o período em que se passa a história é levada à requintes de detalhes - 400 peças foram alugadas em uma loja de Paris especializada em roupas de época.

Observei por diversas vezes que haviam no filme menções a elementos como vestidos, sobrecasacas, chapéus, finos calçados, entre muitos outros; todos estes objetos sendo referidos não por uma eventual tentativa de caracterização da 'realidade', mas sim pelos significados mais amplos que adquirem ao longo da prosa machadiana. 

Chamaram minha atenção dois trechos em especial. No primeiro, Brás está no teatro e percebe, ao observar o decote do vestido de uma dama, Nhá-loló, o que e podemos traduzir da narrativa como "A importância das roupas para a preservação da espécie humana":

"Realmente, não sei como lhes diga que não me senti mal, ao pé da 
moça, trajando garridamente um vestido fino, um vestido que me dava 128 
cócegas de Tartufo. Ao contemplá-lo, cobrindo casta e redondamente o 
joelho, foi que eu fiz uma descoberta subtil, a saber, que a natureza 
previu a vestidura humana, condição necessária ao desenvolvimento da 
nossa espécie. A nudez habitua, dada a multiplicação das obras e dos 
cuidados do indivíduo, tenderia a embotar os sentidos e a retardar os 
sexos, ao passo que o vestuário, negaceando a natureza, aguça e atrai 
as vontades, ativa-as, reprodu-las, e conseguintemente faz andar a 
civilização".


No segundo, após ler uma carta de Quincas Borba, que em outra ocasião encontrara mendigando ("_ Se o que faz um homem são suas roupas, aquele não era Quincas..."), agora o recebe em sua casa, milionário e com uma nova figura:

"Deus me livre de contar a história do Quincas Borba, que aliás ouvi toda 
naquela triste ocasião, uma história longa, complicada mas interessante. 
E se não conto a história, dispenso-me outrossim de descrever-lhe a 
figura, aliás mui diversa da que me apareceu no Passeio Público.
Calo-me; digo somente que se a principal característica do homem
não são as feições, mas os vestuários, ele não era o Quincas Borba;
era um desembargador sem beca, um general sem farda, um negociante
sem deficit. Notei-lhe a perfeição da sobrecasaca, a alvura da camisa, o 
asseio das botas. A mesma voz, roufenha outrora, parecia restituída à 
primitiva sonoridade. Quanto à gesticulação, sem que houvesse perdido 
a viveza de outro tempo, não tinha já a desordem, sujeitava-se a um 
certo método. Mas eu não quero descrevê-lo Se falasse, por exemplo, 
no botão de ouro que trazia ao peito, e na qualidade do couro das botas, 
iniciaria uma descrição, que omito por brevidade. Contentem-se de 
saber que as botas eram de verniz. Saibam mais que ele herdara alguns 
pares de contos de réis de um velho tio de Barbacena".

É a moda, presente em todos os cantinhos da  nossa história, 'explicitamente velada' em nossa rica literatura e na 'realidade fictícia' de nossa vida cotidiana. É por isso que eu faço moda. É por isso que eu gosto dela. 




Trailler do Filme



Algumas referências:

O SIMBOLISMO DO VESTUARIO EM MACHADO DE ASSIS
Suzana coutinho de Souza 


FILMANDO LITERATURA BRASILEIRA
por Julio Bressane e André klotzel
http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=683

Um comentário:

Rafaela Sehnem disse...

Já li o livro e assisti o filme (: hahaha

http://emumvidrodeesmalte.blogspot.com/

beijãoo