terça-feira, 19 de abril de 2011

Não quer descer pela garganta



Se, originalmente Blogs foram criados para serem diários virtuais, o uso que farei do meu hoje será o mais adequado possível. Ando com muita energia ruim acumulada e escrever talvez faça-a sair por meus dedos.

É que acontecem coisas comigo que por mais que eu lute contra, persistem em martelar minha cabeça.

Nunca gostei de Modelagem Plana, nunca escondi isso de ninguém, nem mesmo dos professores [brinco que meu negócio são os livros e não os tecidos...] mas sei da importância de saber e aprender, porque lá pra fora dos muros da faculdade alguém um dia vai me perguntar e eu vou querer responder, porque me cobro isso. Por esse motivo, na medida do possível tenho me esforçado e conseguido atingir os objetivos com boas notas e trabalhos "bacanas".

Pois bem, esse ano começamos a fazer aulas de Modelagem Tridimensional  [Moulage] e eu vislumbrei com encanto a chance de começar a gostar da coisa - e gostei. Percebi que é preciso ser um tanto meticuloso com as linhas, medidas e pences da vida, mas é gostoso trabalhar direto no manequim, construir sonhos vestíveis...[bonito isso, né?]

Daí, comecei: foram blusas básicas, saias, vestidos... Em viajem de férias, faltei a uma das aulas, mas nerd como sou [como me chamam]  preocupada em perder aula voltei correndo e tratei de colocar o conteúdo em dia.

Fiz as peças, relatórios vistados, digitados e entregues em pasta catálogo preta. Fui pra casa.

Uma a uma as notas do primeiro bimestre foram chegando: um 9 lá, um 8.7  acolá, outro 9...Tudo dentro do previsto. No dia em que eu saberia a nota de Moulage, deu uma vontade de sair e brincar com minhas filhas: resolvi faltar e passar um tempo com elas, e na hora mais feliz, no parquinho, entre cores e gargalhadas toca o celular: tirei nota zero nos relatórios e talvez um 3 nas modelagens, o que me deixaria, a priori com média 3 e me arremessaria direto e reto para o exame.

Acabou a risadaria...

Exame?! Eu?! Nunca, em toda minha vida escolar tirei um zero, nunca fiquei nem mesmo para recuperação. Tal nota, teria sido porque hipoteticamente eu havia copiado de algum outro aluno - o que de fato não ocorreu.

Chorei. Chorei mesmo, e muito. Deus sabe o quanto esse curso é importante pra mim. É Ele quem me acompanha nas madrugadas quando eu acho um tempinho silencioso pra fazer minhas modices.

Eu sempre quis fazer faculdade, mas a vida só me deu esse presente aos 29 anos. Então, eu saio todo dia do meu trabalho às 19:00 horas, sem banho, sem janta, e vou feliz da vida [sério!] pro lugar onde eu rego uma plantinha chamada "futuro". Tem colega que não entende isso de gostar da faculdade. Tem gente que acha que eu não devia chorar por uma bobeira dessas. Mas pra mim é importante. Pra mim é muito importante. Tem valor de verdade, peso de vida.

Eu não vou pra faculdade  pra tirar nota sete e pegar um canudo no final de três ano e meio. Eu vou porque eu quero, porque eu gosto, porque é isso que eu escolhi pra mim.

Conversei com a professora, mas não quero entrar em méritos de didática e critérios de avaliacão, porque apesar de também ser professora [eu sou professora] lá eu sou só uma aluna.

O que eu queria falar é que isso me machucou muito. E doeu. E tá doendo um pouco ainda. Porque nota baixa não é de mim. Exame não é de mim. E mentira também não. Eu não copio nada de ninguém, porque sei que isso é me autoboicotar.

Tá aqui, uma bola na minha garganta, porque eu não falto às aulas, porque eu me sinto idiota de estar na praia pensando naquilo que eu tava perdendo, e de ter voltado correndo pra não ficar pra trás. Me sentindo uma imbecil por ter feito os relatórios à mão, por ter escrito um deles, o da aula que eu perdi, intuitivamente, enquanto lembrava do processo de confecção da peça, sendo que o caminho mais fácil que era pegar emprestado de alguém e copiar eu nem considerei.

Me sentindo um lixo [tudo bem, pode falar que eu tô sendo dramática] por ter que mendigar uma nota que eu merecia e explicar uma mal-caratice que eu não cometi. Me julgando por colocar muitas vezes, quase sempre, a faculdade acima da minha família, acima das menininhas que quando eu chego já estão dormindo e do  marido que cuida delas pra eu poder estudar.

Por menos que isso signifique pra você que está lendo, pra mim, vai ficar marcado. Porque a sensação que eu tenho hoje é a de que não valeu a pena o esforço, o fazer com gosto, ou pelo menos o tentar fazer certo, porque não houve reconhecimento.


Eu não tenho mais 18 anos, e o fato de brincar bastante eu não me torna incapaz de saber a hora de falar sério.

Não quero julgar, justamente porque não me senti avaliada, mas sim julgada [e sentenciada] e não quero incorrer no mesmo possível erro. Senti o zero como que para o meu caráter e não para meu trabalho.

Ontem faltei à aula, hoje também não vou. E resolvi escrever porque quem me conhece sabe que eu quero fazer carreira acadêmica, dar aulas, palestrar... E esse episódio me fez ver que na faculdade a gente aprende não apenas como fazer as coisas, mas também como não fazer.

E alguém que queira um dia ter alunos pode aprender aqui nesse baita texto que, um pré-conceito, opiniões baseadas em opinões de pessoas e pessoas podem gerar um equívoco, que pode gerar uma injustiça, que pode gerar uma tristeza, que pode levar ao desânimo de fazer o que é certo, de continuar e de fazer bem feito.

Amo o curso que escolhi, cada dia tenho mais certeza que esse é o meu caminho. Mas daqui, desse termo adiante, provavelmente eu não consiga mais ser eu. Porque esse "ser eu" não valeu a pena. Só espero que, tentando me conter eu não abafe o que tenho de mais precioso, e que ao menos assim eu consiga nota para "passar de ano".

Eu já não sei mais se gosto de moulage...

8 comentários:

Paulo Roberto disse...

Dani:

Tudo bem? Olha, não sei nada de MODA, mas sou Professor de Filosofia(estou parado por motivos de saúde),mas esta análise em relação a AVALIAÇÃO é algo que sempre questionei,pois ainda mais na MODA, não é a CRIATIVIDADE, a possibilidade de surgir um algo novo, um algo diferente que deveria ser não AVALIADO, mas VALORIZADO?
Mas, como sou um IGNORANTE na MODA, não sei o que a tua professora buscou na avaliação, mas diria o seguinte:
Vá a aula! Não por questão de enfrentar os critérios da professora, mas porque é o que tu gostas!
Aprendi na marra que na Faculdade há cadeiras e cadeiras, matérias e matérias, professores e professores.
Não te prenda por AVALIAÇÕES!
Te solte com a tua CRIATIVIDADE!
ELA VALE MUITO MAIS!

Um abração no Amarildo.

SORTE E SUCESSO PARA VOCÊ.

Paulo Alexandre

Anônimo disse...

Adoro moulage, mas odeio a sua professora. CPI no colegiado, agora, já!

Márcia Antunes Consultoria de Imagem & Estilo disse...

Olá, Dani!

Nossa, o seu desabafo doeu em mim...porque sei e entendo como é o que vc está sentindo. Mas o mais importante a ser dito é que não perca o seu foco, não prejudique o seu sonho, não permita que essa situação prejudique o que vc mais quer nessa vida. Coisas assim acontecem e vão acontecer outras vezes, quem sabe? Mas não se deixe abater. Volte às aulas, mostre quem é e o que sabe. Redescubra seu amor por moulage....bjos e paz

Márcia

Profacamilagoncalves disse...

Não deixe que uma avaliação errônea mude sua forma de encarar seu sonho! continue sendo quem vc sempre foi, encare e, no próximo semestre, continue sua trilha rumo ao futuro na moda!

mil beijos!

Mariana Rodrigues disse...

Oi Dani,

Sou professora e em escola de moda. Passo pela sua situação mas do outro lado. Faça como Paulo Roberto disse, vá para a aula, não se deprima pela situação, problemas injustos, sempre enfrentaremos pela vida.

No mais, o que gostaria de lhe aconselhar, é que se deixe conhecer pelo professor. Que ele saiba dos seus objetivos e também das suas limitações. Mostre a ele que seu trabalho é fruto de um esforço muito pessoal. Em uma sala lotada de alunos, muitas vezes não sabemos das particularidades de suas vidas, dos esforços que fazem para estarem presentes e apresentar os trabalhos a tempo.

Converse com seu professor novamente. Não acho que isso seja mendigar uma nota, mas apresentar fatos, mostrar critérios. O professor também é humano e pode errar, confundir-se. Vale uma conversa.

Um grande abraço e espero que tudo se resolva.

Mariana

Dani Lopes disse...

Puxa gente, obrigada pelo carinho!
E, Mari, eu já falei com a professora, provei através de e-mails e dos relatórios originais que não houve cópia de minha parte, porém se houve cópia integral ou parcial dos meus relatórios por outras alunas ela entende que eu também tenho responsabilidade nisso...
Disse ainda, na ocasião, que iria tentar rever minha nota, mas que não prometeria nada pois pensa que, mudando a minha teria que mudar a de todas as outras cujos relatórios ela avaliou iguais aos meus.
Eu ressuscitei este post pq ontem veio o e-mail da profª com a nota sem a alteração e o que eu considero uma mancha no meu boletim: "Em exame".
Na quinta, dia 30 faço a prova do exame - sem merecer fazê-la - sei que posso passar, mas a sensação de desconforto e injustiça são inevitáveis.
É isso!

Dani Lopes disse...

Olha que legal o comentário que a prof.ª Edilaine Garcia deixou no meu face:

"Não se subestime Dani tu foste uma das melhores alunas nesta turma quando eu lecionei modelagem plana pra ti. Não sei qual é o critério de avaliação da sua professora de MOULE mas poderá ser presencial por isto o problema .De qualquer forma ambas as técnicas são impressindíveis na carreira de um designer de moda e vc se sobresairá em ambas. Eu conheço o seu potencial e se algo não deu certo quanto imaginava não perca a fé no seu potencial. Saudades desta turma bjus"

Q fofa!

May Ishii disse...

Amiga, tem que filtrar as coisas boas e ruins. Tá todo mundo consciente ali do que tá acontecendo... se só você tivesse sofrendo com injustiças ou equívocos, tava bom!

Também peguei exame na matéria da mesma professora. POIS É. Eu e mais não sei quantos. HAHAHAHAHAHAHA!

Profissionalismo não é todo mundo que tem. DIDÁTICA MUITO MENOS. Competência é para poucos. E esses, a gente conta no dedo e morre admiração! Nem preciso citar!

Te amo! Saudades!

Super beijo
May