domingo, 8 de agosto de 2010

O Império do Efêmero


Eu havia lido o livro de Gilles Lipovetsky quando estava no comecinho da faculdade e já havia gostado. Agora, na metade do curso, consigo situar melhor as pensatas do autor dentro da história da moda e compreender com mais clareza todo esse mecanismo. Alguns trechos são definições exatas daquilo que penso mas não conseguia definir ou expressar com palavras -  Gilles faz isso com maestria e acho bacana reproduzir aqui no Moda, chocolate e Coca-Cola.



"Vitupera-se contra a moda, mas não se deixa de adotar, em suas pegadas, uma técnica hiperbólica análoga, o must do sobrelanço conceitual. Nada muda, o machado de guerra apocalíptico não foi enterrado, a moda será sempre a moda, sua denúncia é sem dúvida consubstancial a seu próprio ser, ela é inseparável das cruzadas da bela alma intelectual".




"A ilusão da frivolidade da moda é apenas a espuma de um fenômeno social. A moda é o agente supremo da dinâmica individualista em suas diversas manifestações".

"A moda é acompanhada de efeitos ambíguos (...) o que temos de fazer é trabalhar para reduzir sua inclinação 'obscurantista' e aumentar sua inclinação 'esclarecida', não procurando riscar num traço o strass da sedução, mas utilizando suas potencialidades libertadoras para a maioria".

"A moda estetizou e individualizou a vaidade humana, conseguiu fazer do superficial um instrumento de salvação, uma finalidade de existência"

"A moda favorece audácias e trangressões diversas. Ela é um agente da revolução democrática" (!)

"A moda não corresponde a uma dominação tirânica do coletivo; ela traduz muito mais exatamente a emergência da autonomia dos homens no mundo das aparências. É um signo inaugural da emancipação da individualidade estética, a abertura do direito à personalização, ainda que ele esteja evidentemente submetido aos decretos cambiantes do conjunto coletivo"

"A moda é o êxtase frívolo do EU".

"A moda consumada vive de paradoxos: sua inconsciência favorece a consciência; suas loucuras, o espírito de tolerância; seu mimetismo, o individualismo; sua frivolidade, o respeito pelos direitos do homem".


Besos y hasta la mañana...



2 comentários:

Rafael Noris disse...

Lipovetski teve a audácia de defender no âmbito acadêmico aquilo que era visto com maus olhos pelos "eruditos" da época.

Destruiu vários paradigmas ao mostrar os benefícios do frívolo em nossa sociedade.

Muito bom este livro!

Parabéns pelo blog ;)

Dani Lopes disse...

Obrigada Rafael! Também acho o máximo o ponto de vista de Gilles, gosto do aprofundamento que ele dá ao assunto "moda", gosto do olhar que transcende a forma...