terça-feira, 2 de novembro de 2010

Plus Size? Sei não...




Dani Lopes, manequim 46. Eu deveria ser a primeira a aplaudir a iniciativa arrojada de empreender uma Moda Plus Size, mas ainda não estou convencida da validade da mesma. Vou pontuar algumas coisinhas aqui pra que eu possa me fazer entender:

A moda, como fenômeno de linguagem, necessita de uma imagem que a unifique. No passado, era a aristocracia européia, no passado recente as estrelas do cinema e na atualidade as famosas modelos internacionais; isto porque a indústria necessita de padrões de tamanho para fabricar as roupas em série (apesar do fato de que a modelagem industrial das roupas só satisfaz, no máximo, 70% da população de consumidores, considerando a necessidade de pequenos ajustes).
As respostas podem ser infinitas, mas é certo que há uma resistência da indústria em modificar os padrões, ou torná-los mais complexos, por conta de tempo e custos adicionais ao desenvolvimento de um produto de moda, que tem um ciclo de vida curto e normalmente dura uma ou duas estações.

Sobre essa questão ARAÚJO afirma: 

Modelagem industrial  é a confecção de moldes, seguido do escalonamento dos mesmos
em tamanhos variados para a produção em série que serão utilizados na indústria de confecções.Trabalha com padrões determinados, sendo necessário, portanto,
utilizar-se de tabelas de medidas que se assemelham ao padrão médio do corpo,
dentro de uma numeração pré-escolhida.
(ARAÚJO , 1996)

Sobre como chegamos a esta padronização, na década de 1940, começou a haver necessidade de medidas antropométricas cada vez mais detalhadas e confiáveis, provocada pela necessidade de produção em massa e com o crescente volume do comércio internacional. William Sheldon (1940), fez um minucioso estudo com 4.000 estudantes norte-americanos e definiu três tipos básicos: endomorfo ( formas arredondadas, com características de uma pêra), mesomorfo ( tipo musculoso de formas angulosas) e ectomorfo (corpo e membros longos e finos). Observou também influências, comportamentais, de sexo, idade e etnia. ( LIDA,[19- ]).



Diferentes biótipos estão entre os tipos de problemas enfrentados pela indústria de confecção, principalmente as que produzem roupas para exportação, pois não basta alterar as dimensões, mas as proporções das peças, dependendo do mercado a que se destina. Surgiu então, a necessidade de uma padronização nas tabelas de medidas para atender as necessidades do profissional de modelagem.

Em 1968, na Suécia, aconteceu a primeira abordagem oficial da ISO (International Standardization Organization) sobre o assunto da graduação dos tamanhos e o resultado demonstrou que as padronizações deveriam ser feitas por País, devido à grande diversidade antropométrica encontrada. No Brasil, o trabalho do Comitê Brasileiro de Têxteis da Associação Brasileira de Normas Técnicas nesta área teve inicio em 1981, no entanto, esta padronização tornou-se norma NBR 13377- Medidas do corpo humano para o vestuário- Padrões referenciais, aprovada em maio de 1995, após várias reuniões, na Associação Brasileira da Indústria do
Vestuário, ABRAVEST.


É preciso pensar até que ponto essa suposta "liberdade das formas corporais" favorece as mais "cheinhas". Fato é que, com a difusão do uso da Viscolycra por exemplo, os corpos que antes deveriam respeitar uma certa rigidez dos tecidos planos tornam-se agora mais desidiosos. Tal malha, trazia consigo a promessa mágica de respeito às formas corporais, possibilitando até mesmo a função (que considero secundária) de esconder excessos indesejáveis porém reais. A linha entre adaptação e incentivo é muito tênue.


Outro ponto considerável diz respeito ao estudo feito pela Universidade de Arizona, no EUA ao revelar que consumidoras de publicidade em geral (revistas, anúncios de TV, etc) sentem-se mais insatisfeitas com seu próprio corpo ao ver modelos plus-size em evidência nos anúncios. A conclusão de que as mulheres passam a se achar ainda mais gordas quando veem propagandas desse tipo tem um motivo até que óbvio: para a indústria da moda ser gordinha é usar manequim 42, no máximo. 


Uma modelo citou com bastante honestidade numa matéria para o blog Moda sem Frescura que as modelos que trabalham como plus size, nem são tão grandes assim. Elas estão mais para 42/44 do que para GGG. Uma delas, inclusive, diz que costuma levar enchimentos de espuma para rechear as roupas, quando vai posar para catálogos de marcas de tamanhos grandes. Neste sentido, o corpo plus size é muito mais uma plataforma para um movimento de aceitação e auto-estima do que para um segmento no mercado da moda.

Não menos importante é salientar que uma coisa é ser curvilínea, outra completamente diferente é ser obesa. Obesidade é patologia e constitui um importante fator de risco para o aparecimento, desenvolvimento e agravamento de outras doenças. Há tantas pessoas obesas a nível mundial que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou esta doença como a epidemia global do século XXI e requer tratamento, seja em casos de alterações endócrinas, predisposições genéticas, questões metabólicas, ambientais ou comportamentais. A discriminação social que leva ao isolamento, depressão e perda de auto-estima são os sintomas mais comuns. Há no entanto, aqueles considerados "gordos e saudáveis" e talvez seja aí que more o equilíbrio a essa questão: não em emagrecer para ficar bem na roupa, mas para ficar bem com sua saúde.


Houve quem dissesse que eu falo isso porque eu ainda encontro roupas com o meu número. Mas olha, o que dispara o meu gatilho do "ôpa! preciso emagrecer" é quando o zíper do meu jeans 46 não fecha mais. Porque eu sei que não encontrarei jeans bacanas pra comprar numa numeração maior mas, talvez se eu tivesse acesso a eles continuaria engordando, desta vez inserida num grupo fashion. E talvez estejam me dando cordas para que eu me enforque.



Esta moda segmentada, dirigida a este grupo estanque em nome da inclusão social não mudará muita coisa pois não elimina a discriminação e pode até mesmo produzir o efeito contrário. Ameniza o problema, mas não resolve. A mulher real não quer ser diferenciada, quer ser reconhecida contudo, não por estar fora dos padrões. Ela quer SER, assim, como todas devem ser: cidadãs. E a cidadania não é expressa pelo número do manequim.

"Não sou a favor da moda Plus Size. O que precisa acontecer é o mundo
entender a mulher real, entender que existe mulher maior que o número 42".

(Preta Gil)

Eu, a primeira à direita e minhas gordinhas preferidas,
maninha Marcelle e primuxas Vi e Cris













3 comentários:

Michele Diniz Modas disse...

Oi Dani estou te seguindo, sou nova nesse mundo da moda, tmbm fiz meu blog.
Adorei seu blog, tem muitas curisidades e vc escreve muito bem...Se der passa lá no meu cantinho para me dar um HELP!
BJS MD Modas.

May Ishii disse...

Já fui da turma do 44 e concordo com você sem medo nenhum Dani. Apesar de detestar a Preta Gil (rsrsrs) sou obrigada a concordar com ela... Principalmente aqui no Brasil, a mulher real não usa 36. Existem mulheres maior que o número 42 e, como você mesma disse, essa inserção das 'gordinhas' na moda "pluz-size", ao invés de acabar com o preconceito, tem exatamente o efeito contrário, que te faz engordar sem medo, porque agora você vai encontrar roupas maiores, e melhor ainda, FASHION. E isso acarreta inúmeros outros problemas sociais e principalmente, físicos, desencadeando outras doenças que são consequencias da obesidade.

Aline Viana disse...

Adorei tudo!!
Parabens!!

http://hojevouassimparagordinhas.blogspot.com